30 de julho de 2011

A Senhora Viúva

Com o respeito admirado e adornado,
Vejo a modesta dama com tua roupa larga e de uma cor suave
Desfilando com o passo sucinto.
Saudando com poucas e secas palavras,
Limitando-se a um sorriso opaco e duro.

Minha senhora de tantos modos não se importa
Com as crianças que na rua estão brincando e chorando.
Velhos, animais, são todos de um respeito
E de indiferença.
Não há nada de brilhante nas vidas que suspiram.

Homens e mulheres, para a senhora são os mesmos.
Beleza não lhe importa ou não é atributo a se considerar,
Embora ela seja de uma beleza tão linda como a noite.
Atributos a que se interessa são os olhares que todos jogaram fora,
Caráteres que ninguém quis obter, 
Saudações consideradas inapropriadas
São todas dignas de minha grande senhora.

Ela seca procura os que não voltaram
A ver o Sol por questão de opinião.
Dizem ser de um gosto inconveniente aquela senhora.
Não se sabe do passado da singular figura.
E poucos dizem coisas boas de seu falecido
E os muitos dizem repugnâncias ao respeito do defunto que tão cedo morreu.

As vezes penso ter dó de minha senhora,
Mas quando a vejo tomando seu vinho de frente a lareira
Enquanto acaricia a cabeça daquele grande animal feroz,
Com a expressão tão gélida como os gelos que se formam
Nos lugares mais frios e inabitáveis deste globo
Que nem o fogo pode por um instante derreter,
Já me foge a lembrança de um tempo ter tido dó dela.

Minha senhora anda com passos médios,
Elegantemente rápidos
Nas ruas pavorosas da noite.
Tão mal falada
E tão invejada.

Apenas minha senhora viúva de bons modos e respeitos.

28 de julho de 2011

Janela de Minha Casa

Joguei para fora, os amores de uma bela vida.
Despi-me da sujeira que se apegou a mim ao abraço lá fora,
Molhei o corpo e decidi chorar pelo fato de que
Há muitas janelas em casa.
Tomei o banho, talvez pela conveniência
Ou pela tradição e até mesmo pela ilusão de que ficarei "limpa"

Mas não sinto cheiro de alívio.


Sozinha, eu sento dentro daquele roupão velho e fofo, na cama
Trato dos cabelos para que quando tocarem a campainha,
Não se assustem.
Roupa velha, calçados velhos, pelo menos aqui posso.



O vinho, a taça.
Sozinha, eu fico olhando pela janela da sala,
A maior janela de minha casa e a mais triste
Pois mostra muito do que lá fora eu não queria ver.

23 de julho de 2011

Boêmio

Não viajei neste ultimo momento
Esperando uma salva de palmas ao meu adeus.
Traguei mais pelo medo do que pelo sabor de gostar daquilo,
Nem sempre me encontro gostando de tudo que eme oferecem, se é que um dia gostei.
Sinto até que me movo perdido, por movimentos simétricos
Ou tento assim mantê-los.


Jaz o inconsciente que liberto na noite
Honestamente eu me vi usando muito a favor, e na verdade
Não lembro-me do que usei, ou fumei.
Talvez as ervas já tenham acabado comigo,
Se é que um dia elas existiram!


Imitando o passo do passarinho
Entrelinhas que outros falam que Deus sabe,
Mas, nem sei quem Deus é.
Bebe? Fuma? Frequenta o que?
Sabemos mesmo quem são os que nos dizem ser?
Louco de mim eu achei que viriam
Saudar, louva, amar, sentir, cheirar e todos com "-me"
Mas.
Não houve "-me" nenhum, houve algo?
Ah não ser eu embriagado na madrugada, voltando do barzinho caótico
Pobre, e de verdadeiros artistas.


E senhor que sou eu,
Volto mais uma vez para meu apartamento
Tumultuado de tanta ausência na Rua Augusta.
Embelezando a paisagem com a sombra escura de corvo bêbado que sou.

22 de julho de 2011

Sinta o tremor que sopra ao teu ouvido.
Joga-me de um modo que eu não possa voltar
E deixe-me aqui, sozinha.
Ruas, e ruas, e eu ainda não estou afim de achar a casa
Afago, amor, carinhos que me matam e simplesmente voar.
Dor de que eu não,
Conveniência de modos, de horários e de gentes, eu ainda estou confusa!
Devemos sentir?


Honestamente, a chuva me molha
Mas eu não molho ela, ela chora, e eu choro com ela.
E o tempo que me gela, me consola,
Tempo de dor.